O que é Saúde Mental?

Saúde mental e transtornos mentais: conceitos e diferenças

A saúde mental está relacionada à presença de bem-estar no indivíduo. Quando uma pessoa é capaz de realizar suas atividades habituais, de suportar o estresse natural da vida, de contribuir com sua comunidade, pode-se dizer que ela tem saúde mental.

Já o transtorno mental é a presença de algum problema relacionado a comportamento, vivências, rotina, funções psíquicas e cognitivas. A presença de um transtorno mental não impede que as pessoas possam ter saúde mental.

Geralmente com o auxílio de profissionais adequados, uma pessoa que apresenta transtornos mentais pode conseguir gerir sua vida, ser produtiva, contribuir com seu ambiente, lidar bem com o estresse, ter bem-estar e satisfação. Consequentemente, ela pode ter saúde mental.

Mas existem diferentes tipos de transtornos mentais?

Os transtornos mentais podem ser organizados por níveis, que vão de simples a moderado ou grave. Entre os mais clássicos estão os transtornos depressivos, ansiosos e de estresse pós-traumático. Confira.

Transtornos depressivos

  • Exemplos: depressão clássica ou maior, transtorno depressivo persistente, depressão pós-parto, etc;
  • Causas: fatores genéticos e biológicos (como variações hormonais e alterações na química cerebral), ambientais e constituição psicológica;
  • Sinais e sintomas mais comuns: tristeza profunda, falta de prazer nas atividades que antes eram prazerosas, apatia ou letargia, falta de apetite, baixa autoestima, falta de energia e desinteresse por atividades cotidianas (mesmo as básicas de autocuidado);
  • Duração: para ser considerada com depressão, uma pessoa precisa apresentar tristeza na maior parte do tempo por mais de duas semanas; sem o tratamento adequado, pode durar meses ou anos; a distimia ou transtorno depressivo recorrente, por exemplo, dura em torno de dois anos.

Transtornos ansiosos

  • Exemplos: ataques de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, ansiedade generalizada, fobia social e outros;
  • Causas: fatores genéticos e biológicos, ambientais (trauma ou estresse), constituição psicológica, doenças físicas (cardíacas, hormonais, respiratórias) ou induzido por drogas, entre outras;
  • Sinais e sintomas mais comuns: estresse desproporcional ao impacto do evento, incapacidade de superar uma preocupação e inquietação, consequentemente: preocupação constante, pessimismo e/ou medo fortes o bastante para interferir nas atividades diárias, alterações do sono, irritabilidade, aperto no peito, angústia, dificuldade para respirar, tremores, taquicardia, sudorese, sensação iminente de morte;
  • Duração: de segundos a anos; pode ir de angústia quase imperceptível a ataque de pânico; este, por exemplo, pode durar minutos, com crises repetidas no dia ou na semana.

Transtornos de estresse pós-traumático

  • Exemplos: não existem tipos estabelecidos, pois o diagnóstico e os sintomas e sua duração são muito próprios de cada paciente — sempre desencadeados por algum evento traumático;
  • Causas: dificuldade de se recuperar após vivência e tensão de um estresse muito intenso — por exemplo, ter um familiar com covid-19;
  • Sinais e sintomas mais comuns: pesadelos ou lembranças repentinas (flashbacks), fuga de situações que relembrem o trauma, reações exageradas a estímulos, ansiedade, humor deprimido, crises de choro, crises de ansiedade, dificuldade para dormir e se concentrar, tonturas;
  • Duração: meses ou anos, com gatilhos que podem trazer de volta memórias do trauma acompanhadas por intensas reações emocionais e físicas.

Transtornos mentais: capacidade de escolha, auxílio profissional e tabu social

Hoje se reconhece que muitos dos transtornos mentais têm tratamento, com base em medicamentos, psicoterapia, educação em saúde mental, capacitação, treinamento de habilidades sociais e psicoemocionais.

Essas possibilidades de tratamento contribuem para o fortalecimento e melhora da saúde mental. O que pode mudar a rota do paciente: em vez de caminhar para um transtorno, ele pode caminhar para um cenário de crescimento e desenvolvimento, com resgate do bem-estar.

A propósito, o bem-estar está relacionado a três aspectos:

  • subjetivo (felicidade e satisfação íntimas de cada um);
  • psicológico (desenvolvimento de personalidade, valores e virtudes);
  • social (o quanto se consegue interagir com a comunidade e formar redes de suporte).

Quando a pessoa tem esses três aspectos alinhados, de maneira que consiga tomar decisões e agir em relação a elas, está se direcionando para uma saúde mental positiva.

No entanto, pode acontecer de a pessoa desenvolver um transtorno mental que minimize ou elimine quase completamente sua capacidade de escolha e de ação. Nesses casos, é indicado que a pessoa receba um tratamento intensivo, que deve ser avaliado e indicado por um profissional. Esse tratamento pode combinar medicamento e psicoterapia, a depender das necessidades de cada pessoa.

Muitas vezes, esses são os casos que mais sofrem estigma. Isso acontece, pois muitas pessoas confundem a incapacidade provocada pelo transtorno mental com preguiça ou questões morais. Em diversos casos, os pacientes acreditam no julgamento do outro – e essa crença adia a busca por ajuda.

Além de atrasar o tratamento desses transtornos, essa situação gera um sofrimento solitário, calado e progressivo. Se não identificado e analisado a tempo, essa evolução pode levar a pessoa a comportamentos extremos, incluindo pensamentos suicidas.

A saúde mental é igual em todas as idades?

Segundo a OMS, em 2019, 301 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com transtornos de ansiedade, e 280 milhões viviam com transtornos depressivos. O estudo ainda destaca:

  • Nas crianças, os quadros ansiosos são os mais prevalentes;
  • A depressão é rara antes dos dez anos;
  • Os transtornos de ansiedade e depressivos são os mais comuns entre: homens e mulheres jovens e adultos, e pessoas entre 50 e 69 anos. Entre os dois, os transtornos depressivos são prevalecentes.

Ainda sobre o tema, uma pesquisa do Hospital Clínica de Barcelona, na Espanha, de 2021, concluiu que:

  • A idade média em que a ansiedade social aparece é aos 13 anos, a anorexia, aos 17 e a depressão, aos 30;
  • A maioria dos transtornos aparece aos 14 anos, quando o cérebro passa por importantes mudanças relativas ao amadurecimento;
  • Grande parte dos desequilíbrios psíquicos começa durante os primeiros 25 anos de vida.

Quanto aos idosos, observa-se que são mais acometidos por:

  • transtornos de depressão;
  • transtornos de ansiedade (pânico, ansiedade generalizada);
  • bipolaridade;
  • esquizofrenia;
  • demência (principalmente Doença de Alzheimer e demência vascular).

Os estudos e a prática médica sinalizam que a grande maioria dos casos de transtornos mentais em adultos começa na infância e na adolescência. É na adolescência que os jovens desenvolvem sua personalidade e autonomia. Nesse período, não têm tantas condições para gerenciar os problemas ou pedir ajuda. E justamente por isso, os casos de transtorno mental e falta de bem-estar nessa idade costumam ser delicados, exigindo maior atenção.

Como saber se a saúde mental está boa?

Saúde mental vai além da ausência de doenças mentais. Uma pessoa mentalmente saudável, portanto, é aquela que:

  • Está bem consigo mesma e com as demais pessoas;
  • Compreende que tem suas potencialidades e limitações (não pode salvar o mundo, mas pode ajudar a si mesma e a seu entorno);
  • Tem variadas emoções, sentimentos e sensações, mas entende que os altos e baixos são necessários para amadurecimento e desenvolvimento pessoal;
  • Consegue lidar e até se motivar com os desafios e as mudanças inerentes à vida;
  • Sabe procurar ajuda quando se percebe em conflitos de ordem íntima, relacional ou que envolvam os mais diversos campos da vida.

Portanto, se um ou mais desses pontos não parece estar dentro do esperado ou é um incômodo no dia a dia, é importante buscar ajuda para compreender o que pode ser feito para que estejam todos em ordem.

Autocuidado e condutas para a saúde mental

Para a manutenção ou resgate da boa saúde mental, o autocuidado é fundamental. Isso significa olhar para si com atenção e pode ser feito com hábitos e práticas saudáveis. Os cuidados vão desde o corpo, o emocional, a carreira, até as finanças, os relacionamentos, e outros.

Algumas dicas do que pode ser feito:

  • Praticar atividades físicas com regularidade para combater estresse, depressão, ansiedade e problemas relacionados;
  • Priorizar seu período de sono, fundamental para recuperar a energia física e mental;
  • Ter uma alimentação saudável e priorizar alimentos naturais;
  • Manter-se sempre hidratado;
  • Buscar uma vida social ativa, conhecer pessoas, vivenciar novas experiências, principalmente em encontros presenciais;
  • Separar momentos preciosos para hobbies, entretenimento, lazer e descontração;
  • Conectar-se com seu lado espiritual;
  • Evitar o uso de álcool, tabaco e afins;
  • Saber desconectar do digital, evitar consumo excessivo de conteúdos e consequentes prejuízos cognitivos e emocionais;
  • Ter contato com a natureza;
  • Procurar ajuda médica sempre que necessário, especialmente com psicoterapia quando emoções e sentimentos negativos forem persistentes.

Mas, atenção!

Diante da identificação de dificuldades, mal-estar mental ou qualquer sintoma apontado neste texto, indica-se a busca de auxílio profissional, psicólogos e psiquiatras os mais indicados para diagnóstico, aconselhamento e tratamento.

 

Revisão técnica por: Dr. Daniel Oliva, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein

Atlas Mental é um projeto que esclarece dúvidas, explica conceitos e curiosidades relacionadas à saúde mental, abordando suas consequências físicas, psíquicas e comportamentais. Você pode acompanhar novas postagens e conteúdos nas redes sociais do Einstein ou acessar: www.einstein.br/atlasmental – as publicações acontecem ao longo de janeiro de 2023.

 

Fonte: Vida Saudável | o blog do Hospital Israelita Albert Einstein