Esgotamento mental

 

Neste estágio da pandemia, depois de mais de um ano tentando superar seus desafios, a sensação de muitas pessoas é de que se chegou ao limite: estão cansadas, não conseguem produzir no trabalho e isso tem gerado desconforto e impaciência com os familiares, dentre outras situações.

Especificamente sobre o trabalho, eu sugiro que você faça uma autorreflexão dos seus sentimentos e disposição. Você poderá estar a caminho de adoecer devido tantas sensações negativas que envolvem o trabalho ou atividades que faça de forma rotineira.

Uma coisa é você estar cansado e precisando relaxar. Isso é muito natural. Outra coisa é você não querer mais ir ao trabalho e só de pensar em suas atividades sente incômodo estomacal, frieza no corpo e outras coisas.

Existe uma síndrome chamada de Burnout. Damos esse nome para um cenário adoecedor entre o ambiente do trabalho e o trabalhador. A síndrome não é um diagnóstico da saúde do trabalhador simplesmente, mas um atestado de um conjunto de fatores, em especial, gerados pelo ambiente de trabalho.

O burnout não pode ser resolvido com férias ou um retiro de bem-estar. Esta síndrome é muito profunda e até mesmo a sensação de entrar naquele prédio pode ser um gatilho para desenvolver sintomas.

Em 1981, Christina Maslach, professora de psicologia da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos EUA, desenvolveu o Maslach Burnout Inventory (MBI) que tenta esclarecer a questão. A pesquisadora afirma que o percentual de pessoas com a síndrome de burnout aumentou devido à pandemia. Agora, ela acredita que esteja mais perto de 20%, dentre os trabalhadores do Reino Unido, segundo pesquisa realizada no início de 2021.

O maior equívoco em relação ao burnout é pensar que é o mesmo que exaustão, acrescenta Michael Leiter, psicólogo organizacional na Nova Escócia, no Canadá, e coautor junto a Maslach do livro “A verdade sobre o Burnout”. Para pessoas em diversas profissões, diz Leiter, as coisas só pioraram como resultado da pandemia, com problemas de eficácia se tornando especialmente difíceis. Os professores, por exemplo, têm lutado para continuar ensinando e podem não se sentir realizados. Alguns trabalhadores simplesmente sabem que não estão sendo como eram antes, e isso é desanimador, reflete o pesquisador.

De forma geral, é preciso avaliar como a pessoa está se sentindo e começar a pensar sobre o que possa estar causando seus sentimentos desagradáveis e seus sintomas e que mudanças poderão ser feitas. A questão é identificar ambientes com cargas de trabalho ingerenciáveis e usar essas informações para dar aos funcionários mais controle, melhores ferramentas e discernimento para descobrir como fazer seu trabalho melhor. Para isso, a análise prévia é essencial para uma tratativa mais adequada e eficiente para o empregador e para o empregado.

Tem um ditado americano que diz: “se você não aguentar o calor, saia da cozinha”. Diferente desta orientação, o que se propõe é refletir porque não se muda o aquecimento do fogo da cozinha para que as pessoas continuem ao invés de saírem? E que tal reformar a cozinha, dando um melhor ambiente de trabalho?

 

Por Gildeon Mendonça, psicólogo e membro colaborador do DESAM.

Escreve sobre contemporaneidade em www.gildeonmendonca.com