Dando sentido à fé e às emoções

A fé cristã tende a permanecer impessoal e subjetiva até sermos colocados diante de situações que requerem de nós uma resposta pessoal e objetiva. Muitos cristãos, como eu, que cresceram numa cultura racionalista e pragmática, só conseguem dar sentido à sua fé se ela for sistematizada e funcional. Porém é necessário reconhecer que a fé geralmente amadurece e alcança significado quando ela envolve nossas emoções e sentimentos. Mesmo possuindo uma fé solidamente fundamentada em verdades bíblicas, muitos cristãos entram em crise ao passarem por experiências pessoais dramáticas e serem forçados a olhar para si mesmos e seus próprios corações, e a perguntar se tudo aquilo que sempre professaram faz algum sentido naquela situação particular que estão vivenciando.

A gramática da fé não é apenas uma gramática racional sobre doutrinas bíblicas, é também uma gramática pessoal de relacionamento. Posso ter conhecimento das doutrinas bíblicas, dos atributos de Deus e ajustá-los dentro de um sistema racional de convicções, mas posso também nunca ter experimentado, pessoalmente, o significado da fidelidade ou da bondade de Deus numa situação particular de sofrimento e angústia. É comum encontrarmos pessoas que abandonaram a fé, ou se tornaram cínicos, mesmo tendo, durante anos, demonstrado um bom conhecimento das doutrinas cristãs.

Viver pela fé envolve estas duas dimensões da realidade. É fundamental termos a fé ancorada nas Escrituras Sagradas, mas é igualmente fundamental dar um significado pessoal a esta mesma fé, fazendo com que ela dê sentido às experiências pessoais. É comum professarmos a fé num Deus bondoso e fiel e, diante de uma tribulação onde nos vemos ameaçados de sofrimento e morte, encontrarmos um Deus distante, frio e impessoal. A gramática racional não é, necessariamente, a gramática pessoal da fé. As provações, como afirma Tiago em sua Carta, são provações da fé, e elas afetam diretamente nossas emoções gerando medo, angústia e ansiedade. Porém, quando estes sentimentos são enfrentados honestamente e procuramos, com temor e humildade, dar sentido à fé e às convicções num contexto específico, nos tornamos perseverantes e, por fim, íntegros. Em outras palavras, as provações integram as convicções com as emoções na formação de uma fé madura.

 

Texto do Pr Ricardo Barbosa de Sousa publicado na Revista Virtual Ultimato.

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