Por que sofre o justo?

Pr. Antonio Gilberto

O chamado Movimento da Fé ou Confissão Positiva ensina que o crente que vive sofrendo  doença prolongada, revezes, contratempos, prejuízos, provações seguidas, tribulações, privações, pobreza e outras coisas semelhantes é porque, 1) este crente vive em pecado conhecido diante de Deus; 2) não tem fé real em Deus; 3) é infiel a Deus conscientemente, isto é, em coisas conhecidas. Dizem ainda que o crente, uma vez liberto de tais coisas, terá de Deus tudo o que pedir com fé e segundo a sua vontade, pois Ele como nosso Pai celestial quer que seus filhos tenham sempre tudo com abundância.
Um texto bíblico muito citado por eles é Deuteronômio 15.4 “Para que entre ti não haja pobre”, mas ao mesmo tempo ignoram o versículo 11 do mesmo capítulo que diz: “Pois nunca cessará o pobre do meio da terra”. Ignoram também muitas passagens que falam de sofrimentos diversos a que o cristão está sujeito. Muito pouca gente atravessa esta vida sem uma boa dose de sofrimento que pode ser físico, moral ou espiritual.
Ser discípulo e ser amado por Jesus não nos isenta de sofrimento. Lázaro de Betânia era discípulo e amado por Jesus, mas foi atingido pela doença e pela morte. Tiago, irmão de João, fazia parte dos discípulos mais íntimos de Jesus, no entanto, foi morto à espada por Herodes. Paulo, um dos santos mais sofredores, disse: “Sinto-me confortado; superabundo de gozo em todas as nossas tribulações” (2 Co 7.4).
Tipos de sofrimento do justo nesta vida
1)Sofrimento probatório – são provas, tribulações, adversidades, angústias, doenças e outros males que Deus permite virem sobre o justo, nesta vida. São casos em que Deus permite o sofrimento para depurar a nossa fé ou cumprir os seus propósitos. Como o patriarca Jó e o seu intenso, diversificado e prolongado sofrimento.
2)Sofrimento culposo – é o sofrimento corretivo e disciplinar da parte de Deus. “Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará”.  Tudo o que estamos semeamos hoje vamos colher amanhã. Um dos princípios da lei agrária da semeadura é que se colhe muito mais do que se planta. Às vezes, a colheita pode demorar, mas com certeza ela virá, pois é uma lei. Este sofrimento decorre da transgressão das leis de Deus exaradas na sua Palavra. Escolhas erradas que fazemos, trazem nefasta colheita. A correção disciplinar de Deus tem efeito santificador no crente (Hb 12.10,11).
3)Sofrimento contextual ou circunstancial – trata-se do sofrimento do justo decorrente todo ou em parte do contexto humano circunstancial, ambiental, comum, envolvendo o crente. Somos membros do corpo de Cristo – a Igreja;  o sofrimento que venha sobre este “corpo” atingirá seus membros. A Igreja vive em meio a uma sociedade ímpia. Os males porque passa essa sociedade: crises, guerras, despotismo, intolerância, epidemias, sinistros da natureza (incêndios, inundações, etc), atingem também a Igreja. O que ocorre de mal no mundo pode atingir o crente fiel, direta ou indiretamente.
4) Sofrimento natural – sofrimento em decorrência da queda de Adão. Este tipo de sofrimento decorre da jornada da nossa vida natural aqui. A luta pela sobrevivência (educação, emprego, moradia, família) desgaste crescente no espírito, alma e corpo, envelhecimento natural, pouca saúde, meio ambiente adverso, trabalho insalubre, trabalho volumoso, exagerado e demais. A saúde costuma diminuir à medida que a idade aumenta. Também fatores genéticos hereditários dentro da família predispõem o nosso ser físico e psíquico a males diversos. O profeta Eliseu, que foi muito usado por Deus na operação de milagres, morreu de doença (2 Rs 13.14-20)
5)Sofrimento solidário – sofrimento do crente por ser solidário para com seus irmãos em Cristo. Solidariedade cristã, entre os cristãos como a família de Deus (Ler Rm 12.15; I Co 12.25,26)
6)Sofrimento preparatório – é o sofrimento porque o crente passa, para que mais tarde ele possa ajudar de fato a outros que estarão sofrendo como esse crente sofreu (Ver 2 Co 1.3-5; Ez 3.15; I Pe 2.20,21).
A vitória do crente sobre o sofrimento não consiste apenas no livramento dele, no fortalecimento de nossas fraquezas, na solução de problemas, necessidades, crises, doenças, etc., mas igualmente na comunicação por Deus, do seu poder sobre nós para triunfarmos nas lutas; par transpormos esses problemas e superá-los (Is 43.2).
No céu, para onde Jesus nos levará, não haverá sofrimento algum, e nem lembrança deles (Ap 7.17; 21.4).