Vida Abundante
O que quer dizer Reforma?
O nome e o sentido dados à Reforma são condicionados pela visão do historiador:
O historiador católico romano entende a Reforma como uma heresia inspirado por Martinho Lutero por causa de várias razões, entre as quais a vontade de se casar. O protestantismo é visto como um cisma herético que destruiu a unidade teológica e eclesiástica da Igreja Medieval. Nesta perspectiva Lutero foi, sem dúvida alguma, um herege que se tornou cismático, mas esses historiadores esquecem que a igreja medieval já tinha se afastado do ideal do Novo Testamento.
O historiador protestante interpreta a Reforma como um movimento religioso que procurou redescobrir a pureza do cristianismo primitivo como descrito no Novo Testamento. Esta interpretação tende a ignorar os fatores econômicos, políticos, sociais, intelectuais e religiosos que ajudaram a promover a Reforma.
O historiador secular interpreta-a apenas como um movimento revolucionário.
O termo “Reforma Protestante” foi consagrado pelo tempo. O movimento procurava voltar à pureza do cristianismo do Novo Testamento. Os reformadores estavam interessados em desenvolver uma teologia que estivesse em completa concordância com o NT; eles criam que isso seria possível a partir do instante em que a Bíblia se tornasse a autoridade final da Igreja.
Muitos protestantes ignoram que o movimento protestante provocou, numa tentativa de lhe conter os passos, um movimento de reforma dentro da Igreja Católica Romana que impossibilitou à Reforma ganhar mais terreno como vinha fazendo.
O movimento reformista que se desenvolveu na Igreja Católica Romana, entre 1545 e 1563, é conhecido como Contra-Reforma. A Igreja Católica Apostólica Romana começou a usar essa nova denominação, a partir do Concílio de Trento, com o propósito de diferenciá-la das igrejas cristãs surgidas a partir da Reforma.
Por que aconteceu a Reforma Protestante?
Alguns fatores tornaram inevitável a reforma. Entre muitos, pode-se destacar: A relutância da Igreja Católica Romana medieval em aceitar as mudanças sugeridas por reformadores sinceros como os místicos Wycliffe e Huss, os líderes dos concílios reformadores e os humanistas; o surgimento das nações-estados, que se opuseram ao poderio universal do papa e a formação da classe média, que se revoltou contra a remessa de reservas para Roma. Sua fixação ao passado, clássico e pagão, indiferente às forças dinâmicas que estavam formando uma nova sociedade, a italiana, da qual o papado fazia parte, adotou uma forma de vida corrupta, sensual e imoral.
Os abusos do clero eram muitos. Ter amantes, filhos e dilapidar os bens da Igreja era comum. O papa Alexandre VI foi um mau exemplo. No início do século XVI, a Igreja Católica estava profundamente desmoralizada. Muitos padres e monges tinham concubinas e filhos ilegítimos. Os escândalos financeiros, a vida luxuosa e o envolvimento na vida política manchavam ainda mais a imagem da Igreja.
A causa direta da eclosão da reforma na Alemanha foi o escandaloso abuso da venda de indulgências.
“Tão logo a moeda no cofre ressoa, a alma sai do purgatório.” Essa era a curta “cantilena” da propaganda de João Tetzel, um eloquente monge dominicano autorizado a conseguir dinheiro para construir uma nova basílica em Roma. Seu esquema para o levantamento de fundos — a venda de indulgências — era, simplesmente, a venda do perdão.
“Faça com que os seus entes queridos, que já partiram, saiam do purgatório por uma pequena taxa e ganhe algum crédito adicional para os seus pecados”. Tetzel viajava de cidade em cidade, proclamando seus benefícios: “Ouça a voz de seus entes queridos e amigos que já morreram, suplicando-lhes e dizendo: ‘Tenha pena de nós, tenha pena de nós. Estamos passando por tormentos horríveis dos quais você pode nos redimir, contribuindo com uma pequena esmola’. Vocês não desejam fazer isso”?
Em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero afixou, na porta da catedral de Wittenberg, que também servia como quadro de avisos da comunidade, 95 teses, escritas em latim, em que protestava contra o escandaloso e nefando comércio das indulgências. Elas foram imediatamente traduzidas para várias línguas. Primeiro para o alemão, e depois para o espanhol, o holandês e até para o italiano.
Nas Teses, Lutero atacou a venda de indulgências porque elas: (1) diminuíam a dádiva graciosa da salvação; (2) não evocavam a verdadeira contrição interior ou o arrependimento; (3) não produziam a virtude cristã de amor que era o verdadeiro arrependimento vivido exteriormente; e (4) eram, no final das contas, o oposto das virtudes cristãs de misericórdia e compaixão.
As indulgências, porém, eram apenas a ponta do iceberg. Lutero se rebelava contra toda a corrupção da igreja e pressionava para que uma nova compreensão da autoridade do papa e das Escrituras fosse adotada.
Por ter realizado esse protesto, Martinho Lutero é uma das poucas pessoas de quem se pode dizer que a historia do mundo ocidental foi profundamente alterada por seu trabalho. Sem ser nem um político nem um revolucionário autodeclarado, ele persuadia as pessoas pelo poder de uma profunda fé religiosa, fruto de uma confiança inabalável em Deus e de relações diretas e pessoais com Deus.
O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia Lutero, uma vez que Deus o oferece gratuitamente. Afinal, “o justo viverá da fé”.
Martinho Lutero, nascido em 1483, morreu aos 63 anos e não viu tudo o que sua influência trouxe.
Porém, os “Sola Scriptura, Sola Christus, Sola Gratia e Sola Fide”, tornaram-se praticamente o cartão de apresentação das igrejas protestantes.